domingo, 12 de fevereiro de 2012

O primeiro longa de François Truffault

Os incompreendidos (coleção Folha Cine Europeu volume 15)

título original – Les Quatre Cents Coups, 1959

Dizem que o desejo secreto de todo crítico de cinema é ser cineasta.

Penso que não deve ter sido fácil para o jovem François Truffault fazer essa transição exatamente numa época em que o cinema francês borbulhava com refilmagens de clássicos da literatura francesa.

Truffault era crítico da revista "Cahiers du Cinéma" e Os incompreendidos foi seu primeiro longa-metragem, o qual ele produziu, dirigiu, escreveu e decorou parte dos cenários.

O filme é considerado como auto biográfico em virtude das semelhanças entre o personagem principal e o jovem diretor, semelhanças estas que Truffault até admitiu mas ressaltando que em nada os pais do jovem Antoine eram similares aos seus.

Assim, ao assistir Os Incompreendidos temos uma visão cotidiana do que foi crescer em Paris nos anos 50, em plena repressão, onde os jovens buscavam no rock 'n roll uma forma de ser ouvidos pela sociedade .

Antoine (Jean Pierre Léaud) é um incompreendido na escola e em casa, sofre com a falta de atenção dos pais e com o autoritarismo na escola. Convive bem com os colegas, em especial com René, o parceiro com quem “mata aula” para ir ao cinema ou para se divertir e viver algumas emoções radicais.

Ele não é um garoto mau, só se vê angustiado pela vida que leva e anseia pela independência. O pai o vê como um fardo, nunca pronuncia seu nome. A mãe é desinteressada, ausente, parece ligada ao casamento de aparências por causa da criança. O professor não tem interesse em alunos que tenham atitudes, quer respostas pré selecionadas e conjugação de verbos.

Quando foge, Antoine vivencia a liberdade, solta os grilhões. O fato de necessitar de recursos financeiros para manter essa liberdade é que traz problemas . Durante um roubo frustrado ele é pego e entregue a polícia. Então é levado para um reformatório, que muito se parece com a escola que frequentava. Não demora para fugir de lá também.

O filme é melancólico, bondoso com o personagem, as cenas são leves, permeadas de planos abertos. Há toques de humor em toda a história. Mesmo em sua derradeira fuga, Antoine passa por fazendas pueris em cadência, como a projeção de um filme. Chega ao mar, que sempre ansiou por ver, ao fim de sua jornada. Para onde ir?

Veremos Antoine em mais 4 filmes do mesmo diretor.

Os incompreendidos ganhou o premio em Cannes por melhor diretor e foi indicado ao Oscar por roteiro, detalhe, em francês, o que para a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas é um fato raro.

Nenhum comentário:

BONES-CINEMA-TV
>